Vamos falar um pouquinho sobre a fase dos dois anos?
Conhecida por muitas pessoas como “terrible two”, a fase dos dois anos de idade não tem nada de “terrível”! Esta é uma etapa de transição da condição de bebê para criança e muitas mudanças, transformações e aprendizagens estão ocorrendo neste período. Então, fica a pergunta, será que é uma fase tão terrível assim? Prefiro me referir à fase como um tempo de descobertas, potencialidades, adequações e autorregulação. Neste momento de vida, as crianças começam a testar limites e a desenvolver sua personalidade.
É comum que nesse período as crianças apresentem comportamentos como birras, mordidas e conflitos com colegas. Isso acontece porque elas ainda não possuem habilidades sociais necessárias para resolver seus próprios conflitos e frustrações. As birras são uma das características mais comuns dessa fase, e podem ser bem desafiadoras para os pais e educadores. É importante lembrar que a criança está aprendendo a expressar suas emoções e que as birras são uma forma de comunicação quando ela se sente frustrada ou não consegue algo que deseja. A melhor forma de lidar com as birras é manter a calma e não ceder às exigências da criança. Espere a “crise” passar para depois conversar sobre o comportamento e fazer orientações assertivas. No momento do choro ou da birra, qualquer intervenção será pouco eficaz, pois a criança não está com sua atenção voltada à novas aprendizagem e não consegue se autorregular.
Além disso, morder outras crianças também é um comportamento comum da idade. Esta é uma forma que a criança encontra de expressar suas emoções, seus desejos e necessidades. Na maioria das situações não há intencionalidade da ação e nem agressividade. A mordida pode aparecer como gesto de carinho, necessidade do contato físico, fase oral com uma intensa necessidade de experimentar as coisas com a boca, mecanismo primitivo de conquista frente a uma disputa, repetição de comportamentos aceitáveis, dificuldade ou atraso na fala. É essencial ensinar à criança que morder não é uma forma aceitável de resolver seus problemas, fazer carinho, dar atenção ou se divertir e procurar ajudá-la a identificar outras opções de comunicação.
Sabem aquele pezinho gordinho, ou aquela bochecha gostosa de morder ou apertar? Pois é, muitas vezes os próprios adultos cuidadores apresentam os comportamentos às crianças sem perceber, mas depois, estas mesmas atitudes serão repetidas por elas.
No momento de brincadeira e interação adulto/criança, a mordida pode estar sendo divertida ou uma demonstração de afeto. De repente na escola, a criança aperta, abraça, morde e machuca o seu “melhor amiguinho”. O que será que tem de “errado” com ela? Será que foi intencional? Será que esta criança é agressiva? Ou será que ela quer demonstrar, da forma que aprendeu, todo o seu carinho pelo colega? Observem que a maioria dos conflitos ocorrem entre as crianças que têm maior afinidade. Creio que isso explica muitas coisas, não é mesmo? Vamos pensar juntos novamente… Será que uma criança de dois anos consegue perceber a intensidade de sua mordida, do seu empurrão, a consequência de seus atos, perceber a dor do outro? Então por que condená-la a rótulos de menino ou menina “malvada”, desobediente, agressiva? Precisamos ter cuidados com julgamentos. Precisamos incluir e não excluir…
Mas, meu filho já tem três anos e a fase ainda persiste! Sim, entre dois e três anos as crianças ainda estão desenvolvendo suas habilidades sociais e emocionais e precisam de muito acolhimento, referência, educação positiva e afetiva para sistematizarem suas aprendizagens. Quando a família e a escola, mesmo com todas as intervenções feitas, não observam progressos no desenvolvimento e relacionamentos da criança, aí é hora de procurar um apoio profissional preventivo. A avaliação psicológica nestes casos é recomendada para uma investigação mais específica dos comportamentos e da relação sistêmica com a família.
Reforço que esta fase de desenvolvimento é natural e faz parte do crescimento, algumas crianças passam por ela com maior intensidade, outras de forma tranquila. Para auxiliarmos neste percurso, é importante mantermos uma comunicação aberta com a criança, estabelecer limites claros e demonstrar empatia, respeito e compreensão para que ela possa aprender a comunicar suas emoções de forma saudável.
Dar apoio à criança nesta fase de desenvolvimento, por meio de uma educação afetiva e positiva, é dever da família e da escola. Precisamos cuidar, acolher e ensinar, este é o nosso compromisso com a infância!
E você, de que forma está auxiliando seu filho na fase dos dois anos?
Eloise Brustolin – Diretora do Espaço da Criança. Pedagoga, mestre em educação, psicopedagoga clínica e institucional, especialista em desenvolvimento infantil.